A rescisão trabalhista é um momento delicado na vida de qualquer trabalhador, mas seus efeitos podem ser ainda mais significativos entre pessoas de baixa renda. Afinal, perder o emprego formal não representa apenas o fim de um contrato, mas o início de uma série de desafios financeiros e emocionais. Entender como funciona esse processo e seus desdobramentos é fundamental para lidar melhor com a situação e buscar caminhos para superá-la com dignidade.
Rescisão trabalhista é o encerramento do vínculo entre o empregado e o empregador sob as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Esse rompimento pode acontecer por diversos motivos, como:
Pedido de demissão por parte do trabalhador;
Demissão sem justa causa;
Demissão por justa causa;
Acordo entre as partes;
Término de contrato por tempo determinado.
Cada uma dessas situações gera efeitos distintos sobre os direitos do trabalhador, principalmente nos valores pagos na rescisão.
A depender do motivo da rescisão, o trabalhador tem direito a diferentes valores. Entre os principais, estão:
Saldo de salário: valor proporcional aos dias trabalhados no mês da demissão.
Férias vencidas e proporcionais + 1/3: caso o empregado tenha férias a receber.
13º salário proporcional: baseado no número de meses trabalhados no ano da demissão.
Aviso prévio: pode ser trabalhado ou indenizado.
Multa de 40% do FGTS: no caso de demissão sem justa causa.
Saque do FGTS: permitido em algumas situações.
Seguro-desemprego: quando se enquadra nos requisitos legais.
Esses valores representam um alívio temporário para o trabalhador, mas não garantem estabilidade financeira por muito tempo, principalmente entre os que já vivem com o orçamento apertado.
Para famílias de baixa renda, o salário é geralmente a principal ou única fonte de sustento. Por isso, a perda de um emprego pode causar um efeito dominó:
Interrupção imediata da renda fixa: o que dificulta o pagamento de despesas básicas como alimentação, aluguel e contas de consumo.
Uso imediato das verbas rescisórias: muitas vezes usadas para quitar dívidas acumuladas ou manter as necessidades mínimas do mês seguinte.
Risco de endividamento: com a renda cortada, cresce o uso de crédito rotativo, empréstimos e até financiamentos emergenciais.
Comprometimento da saúde mental: a pressão de não conseguir prover o básico aumenta os níveis de estresse e ansiedade.
Outro fator que agrava a situação de pessoas de baixa renda é a dificuldade de reinserção no mercado de trabalho. A informalidade ainda predomina em muitos setores, oferecendo menos direitos, menor segurança e salários ainda mais baixos. Para quem já enfrentava desafios financeiros antes da demissão, essa instabilidade representa um ciclo difícil de romper.
Além disso, o acesso à qualificação profissional e oportunidades mais estáveis costuma ser limitado em regiões periféricas e em contextos sociais vulneráveis. Isso aumenta a concorrência por vagas menos qualificadas e mantém grande parte da população em ocupações precárias e instáveis.
Um dos aprendizados mais valiosos diante da rescisão é o quanto uma reserva de emergência pode fazer diferença. Ela permite manter um nível mínimo de segurança durante o período de transição entre empregos. Infelizmente, essa prática ainda é pouco comum entre trabalhadores de baixa renda, principalmente porque o salário muitas vezes é insuficiente até mesmo para cobrir o básico.
Mesmo assim, é possível — com organização e educação financeira — reservar pequenos valores ao longo do tempo. Ter pelo menos o equivalente a três meses de despesas guardados já representa um apoio importante em momentos de crise.
Em situações de urgência, muitas pessoas buscam soluções alternativas para gerar renda. Algumas possibilidades incluem:
Trabalhos temporários e freelances: mesmo que informais, podem garantir alguma entrada de dinheiro.
Venda de produtos ou serviços: alimentação, artesanato, revenda de roupas, entre outros.
Cursos rápidos de capacitação: oferecidos gratuitamente por instituições públicas e ONGs, ajudam a ampliar as oportunidades.
Embora essas alternativas não substituam a estabilidade de um emprego formal, elas podem funcionar como ponte até a conquista de uma nova vaga com carteira assinada.
Um dos grandes aliados para enfrentar momentos como a rescisão trabalhista é o conhecimento sobre como cuidar melhor do dinheiro. Ter noções básicas de finanças pessoais ajuda a tomar decisões mais conscientes:
Priorizar pagamentos essenciais;
Negociar dívidas antigas;
Evitar uso impulsivo do crédito;
Avaliar com cuidado propostas de trabalho informal.
Pequenas mudanças na forma de lidar com o dinheiro podem evitar o endividamento e proporcionar mais tranquilidade durante o período de desemprego.
A rescisão trabalhista afeta todos os trabalhadores, mas seus efeitos são mais intensos entre as pessoas de baixa renda. A falta de reserva financeira, a dependência do salário e a instabilidade do mercado tornam a demissão um momento de grande vulnerabilidade. Porém, com informação, organização e apoio, é possível enfrentar esse período com mais preparo e dignidade.
Entender o tipo de desligamento é essencial para saber exatamente quais valores e benefícios você tem direito a receber. Abaixo, estão os principais cenários e os respectivos direitos:
É quando o empregador encerra o contrato de trabalho por decisão própria, sem que o empregado tenha cometido falta grave. Os direitos são:
Saldo de salário
Férias vencidas e proporcionais + 1/3
13º salário proporcional
Aviso prévio indenizado ou trabalhado
Multa de 40% sobre o saldo do FGTS
Saque do FGTS
Seguro-desemprego (se atender aos critérios)
Esse é o tipo mais comum de desligamento e o que oferece maior proteção financeira para o trabalhador.
Ocorre quando o trabalhador comete uma falta grave, como insubordinação, abandono de emprego ou ato de improbidade. Neste caso, os direitos são mais limitados:
Saldo de salário
Férias vencidas + 1/3 (se houver)
Não há direito a multa do FGTS, saque do fundo nem seguro-desemprego. Por isso, é importante ter clareza sobre seus deveres contratuais e manter uma postura profissional durante o vínculo de trabalho.
Quando o próprio empregado decide sair da empresa, ele tem direito a:
Saldo de salário
Férias vencidas e proporcionais + 1/3
13º salário proporcional
Não há direito à multa do FGTS nem ao saque do fundo. Também não é possível acessar o seguro-desemprego.
É uma forma de rescisão mais recente, prevista na Reforma Trabalhista. Nessa modalidade, empregador e empregado entram em consenso sobre o encerramento do contrato. Os direitos são:
Metade do aviso prévio indenizado
Metade da multa do FGTS (20%)
Saque de até 80% do saldo do FGTS
Sem direito ao seguro-desemprego
Apesar de ser uma alternativa viável, é necessário cuidado para que esse acordo não seja forçado ou prejudicial.
Depois de receber as verbas rescisórias, é comum que muitas pessoas gastem o valor de forma impulsiva, o que pode gerar novos problemas financeiros. Por isso, é essencial ter um plano. Veja algumas dicas:
Faça uma lista de todas as despesas mensais: aluguel, alimentação, contas básicas, transporte e dívidas. Saber quanto você gasta ajuda a definir prioridades.
A tentação de gastar o dinheiro da rescisão com itens de consumo é grande. No entanto, é hora de preservar seus recursos ao máximo.
Caso tenha pendências financeiras, entre em contato com os credores para buscar condições melhores de pagamento. Muitas vezes é possível conseguir descontos ou prazos mais longos.
O ideal é dividir a verba da rescisão em três partes:
Manutenção da casa e alimentação
Quitação ou negociação de dívidas
Reserva para emergências
Ter disciplina nesse momento é essencial para atravessar o período de desemprego com menos impacto.
A busca por uma nova colocação pode demorar mais do que o esperado. Nessas situações, vale buscar alternativas para gerar renda e continuar ativo:
Prestar serviços temporários, como entregas, faxinas ou consertos
Trabalhar como autônomo ou microempreendedor (MEI)
Vender produtos caseiros, como doces, bolos, marmitas
Reaproveitar habilidades profissionais em novos contextos
Além de garantir alguma entrada de dinheiro, essas atividades ajudam a manter o ânimo e podem até abrir portas para um novo caminho profissional.
Pessoas de baixa renda têm à disposição algumas iniciativas públicas e sociais que podem ajudar no momento da rescisão:
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS): oferecem orientações e apoio em diversas áreas.
SINE (Sistema Nacional de Emprego): encaminha para vagas formais e oferece qualificação.
ONGs e coletivos locais: muitas promovem cursos gratuitos e apoio financeiro emergencial.
Programas de renda básica: como o Bolsa Família e o Auxílio Gás, dependendo do perfil familiar.
Não hesite em buscar ajuda. Muitas vezes, o suporte certo no momento certo pode evitar que a situação financeira se agrave.
A rescisão trabalhista pode parecer um momento de fim, mas também pode ser o início de uma nova fase. Para a população de baixa renda, é importante transformar esse momento difícil em uma oportunidade de reorganizar a vida financeira, aprender mais sobre como lidar com o dinheiro e buscar alternativas sustentáveis de renda. Com informação, apoio e organização, é possível superar a demissão e construir um caminho mais seguro rumo à estabilidade financeira.